Manifesto

O GAAP - Grupo Assexual e Arromântico Português é um colectivo de pessoas assexuais e arromânticas portuguesas, habitantes em território português ou além fronteiras, que luta para desmistificar os preconceitos contra as pessoas assexuais e arromânticas. O colectivo é composto de pessoas de várias identidades de género e orientações que se identificam dentro dos espectros arromântico ou assexual, conferindo ao grupo diversos pontos de vista devido à diversidade de vivências e experiências dos seus membros.

As noções de assexualidade e arromantismo são frequentemente desconhecidas pela sociedade (incluindo professores e profissionais de áreas de saúde sexual e mental), o que leva a que muitas pessoas assexuais e/ou arromânticas não imaginem sequer que estas orientações existem, sentindo-se de algum modo “defeituosas” por não sentirem o mesmo que a generalidade das pessoas à sua volta. Tanto estas pessoas como também aquelas que já estão familiarizadas com os conceitos e se identificam como tal são frequentemente invalidadas pelas pessoas que as rodeiam (incluindo entes queridos): é-lhes dito que é “apenas uma fase”, que lhes falta encontrar “a pessoa certa” por quem irão sentir atracção romântica e/ou sexual, entre outros exemplos.

No caso específico da assexualidade, são inúmeros os mitos e confusões: esta é confundida com abstinência ou com baixos níveis de líbido, atribuída a estados depressivos e/ou traumas relativos a abusos sexuais, e/ou tida como um indicador de desinteresse ou repulsa por actos sexuais, situações que nem sempre se verificam. A inexistência de atracção sexual é por vezes vista como sinal de que não se “ama verdadeiramente” a(s) pessoa(s) com quem se está numa relação romântica (ou várias relações), chegando a haver casos de pessoas assexuais que são alvo de pressão social por parte dos seus entes próximos e coerção por parte das pessoas com quem se relacionam.

Já o arromantismo é muitas vezes confundido com falta de sensibilidade, frieza, egoísmo, e mesmo promiscuidade, no caso de pessoas arromânticas sexualmente activas. Algo que é muitas vezes mal-compreendido é que a ausência de necessidade de estar numa relação romântica não implica uma ausência de amor pela pessoa com quem se está. Além disso, tal como existe uma pressão para sentir desejo sexual, existe uma imensa pressão social para ter uma relação romântica.

A todas estas (e muitas outras) situações de preconceito e discriminação, junta-se a falta de visibilidade em espaços onde seria expectável exactamente o contrário, nomeadamente espaços queer (onde também, por vezes, se é alvo de discriminação) e programas académicos (nomeadamente, no contexto de disciplinas como Ciências Naturais, Biologia e Educação Sexual). A falta de conhecimento sobre os conceitos de assexualidade e arromantismo traduz-se ainda numa falta de representação (ou de representações erróneas) em obras de ficção, o que contribui ainda mais para que se desenvolva um sentimento de solidão e uma sensação de que há algo de errado com a pessoa.

Como tal, pretendemos consciencializar a sociedade para a existência dos espectros da assexualidade e do arromantismo, e consequentemente contribuir para a diminuição, ou mesmo extinção, das situações em que as pessoas assexuais e arromânticas sofrem os tipos de discriminação acima descritos.